Douglas Souza e casal do Suzano veem avanço 12 anos após homofobia sofrida por Michael

Na semifinal da Superliga masculina de vôlei, em 2011, uma demonstração explícita de preconceito ficou marcada, os gritos homofóbicos da torcida ecoavam contra Michael na partida entre Vôlei Futuro e Cruzeiro. Cena essa que impactou uma geração que começava na modalidade. Doze anos depois… Em 2023, Angellus e Luisinho jogam no mesmo time e são namorados. Douglas Souza vive a liberdade de ser quem é. E a competição ganhou regras contra o preconceito, inclusive com punições.

O que Michael, Angellus, Luisinho e Douglas Souza têm em comum? Reunimos os quatro para celebrar os pequenos avanços, em busca de respeito no esporte.

Dói saber, que pra gente não passar por isso hoje, alguém teve que passar por isso antes. Sinceramente, eu lembro que a gente ficou muito chateado. Porque mesmo que não tenha sido com a gente, era com um de nós. Então se é com um de nós, naturalmente, a gente também sente – relembra Luisinho.

A cobrança por excelência
A discriminação ainda existe. Mesmo que muitas vezes disfarçada de boas intenções. Douglas Souza viveu no vôlei o que todo atleta sonha: subiu ao lugar mais alto do pódio com o ouro nas Olimpíadas da Rio 2016. Lutou contra o preconceito e mostrou sua personalidade ao sambar em cima da cama, em Tóquio 2020. Tudo isso, prezando pela excelência no que se propôs a fazer.

As mesmas pessoas que ajudavam, ainda falavam: ‘olha, mas você tem que esconder seu jeito, porque se você chegar lá, você vai ser cortado. Não vão querer ficar com você. Não vão querer você no clube. Não vão querer um gay representando o clube’ – recorda Douglas. – Escutava isso de gays. ‘Viu, eu sei que você é viado e tal, mas você não pode chegar lá na seleção, porque você vai ser cortado’. Então eu não tinha que ser bom, eu tinha que ser muito bom. Eu tinha que ser o cara do time. Eu tinha que fazer o olho do técnico brilhar e pensar: ‘eu preciso dessa bicha no meu time’ – completa.

Casal na Superliga
Angellus e Luis Rodrigues se conheceram através do vôlei. A amizade se transformou em amor. Eles começaram a namorar em setembro de 2021, mas só tornaram público no final de dezembro do mesmo ano. Na última temporada, eram o casal queridinho da Superliga jogando pelo Suzano. Agora, vão representar o Montes Claros.

  • Eu fiquei um bom tempo pensando. O que será que as pessoas vão achar? O que a torcida vai achar? Os jogadores, técnico… – conta Angellus.
  • A gente passou a ser exemplo para meninos mais novos. Exemplo positivo de que uma coisa não interfere na outra – comemora Luisinho.

Impacto do caso Michael no vôlei
A força que eles carregam até hoje para vencer a discriminação no vôlei estava a uma ligação de vídeo de distância: Michael, que joga na França atualmente. Os atletas que resistem hoje na Superliga tiveram a oportunidade de agradecer ao atleta por ter defendido se manifestado e lutado em prol da liberdade ainda em 2011.

Eu fico muito emocionado com tudo isso. Tudo que eu fiz naquela época, realmente, só foi por lutar por uma causa. Por tudo que eu sofri. Ver vocês dois (Angellus e Luis) juntos é uma coisa que eu nunca imaginei. Ver um casal compartilhando e dividindo a vida e mostrando tudo isso para todo mundo – celebra Michael. – Não adiantaria nada eu ter me pronunciado naquela época, se você (Douglas) não brilhasse. Seu posicionamento é incrível. A gente vivia dentro dos armários. Com os amigos, a gente mostrava quem a gente era, mas dentro de quadra a gente voltava para dentro do armário. Ver o Douglas foi muito libertador – conclui.