Marcus D’Almeida mira a perfeição em busca da inédita medalha olímpica em Paris 2024

A precisão fez o mundo enxergá-lo de um jeito diferente. Não há hoje quem não respeite esse bigode no universo do tiro com arco. Em uma modalidade sem tradição no Brasil, Marcus Vinícius D’Almeida ascendeu ao topo do ranking mundial.

Ser o número 1 do mundo no esporte é fruto de uma década de trabalho com olhos abertos para os detalhes. E o arqueiro brasileiro entendeu que as flechas só encontram o centro do alvo quando vários fatores são levados em conta.

  • Tudo faz sentido, tudo tem um porquê, todo parafuso dá pra ajustar – explica Marcus D’almeida.

No tiro com arco, por exemplo, que por uma pequena bolinha é preciso executar uma ação complexa. Os atletas ficam a 70 metros do alvo. E variações de um milímetro na posição observada na mira podem fazer a flecha desviar até 20 centímetros para fora da área central, a amarela, que rende as maiores pontuações: 10 e 9 pontos.

  • É um esporte muito preciso, então qualquer coisa que mexa um pouquinho, já vai fora – diz o arqueiro.

Os melhores atletas, como o Marcus, acertam até 72 flechas seguidas apenas na região amarela durante uma competição. Para isso, existe bastante esforço envolvido cada vez que a corda é esticada para o disparo.

  • Em torno de 25 kg, toda a vez que puxa, e o arco pesa entre 4 kg e 5 kg, e fazendo isso várias vezes por dia, vira tonelada de exercício – calcula o atleta que revolucionou a modalidade com um preparo físico melhor que os dos principais rivais nos últimos anos.

Para evitar que o cansaço comprometa o desempenho, Marcus entendeu que a postura é essencial. Antes de disparar, é crucial criar um triângulo milimetricamente alinhado, entre a ponta da flecha, o cotovelo traseiro e as costas. Eles atiram com o corpo, não apenas com o arco.

  • A estabilidade importa muito. Se você mexe o corpo, você mexe a mira, e se você mexe a mira, você perdeu – afirma Marcus, que faz manualmente as próprias cordas do arco para ter a tensão exata que precisa para atirar melhor.

Se tudo isso já é complexo demais, ainda tem um ingrediente essencial: as variações das condições climáticas, que interferem na trajetória das flechas.

A competição de tiro com arco não para, mesmo com ventania ou chuva forte. E os atletas não podem utilizar instrumentos eletrônicos para medir intensidade ou direção do vento. Entra em jogo aí a sensibilidade, para perceber nuances do ambiente ao redor.

  • Eu gosto de olhar árvores, de olhar as coisas que tem em volta. Então você consegue escutar o vento. Bizarro isso, né? O vento diz que está chegando, de certa forma, se você estiver atento.

O Marcus parece nunca perder esse foco, especialmente nas competições mais importantes. Ele tem uma prata no Campeonato Mundial em 2021. E venceu, agora em maio, a etapa da Copa do Mundo de Xangai, na China. O primeiro título dele em etapas de Copa do Mundo veio ano passado, em Paris, a capital olímpica. O Brasil, assim, ganhou relevância internacional. Mas isso não o deixa satisfeito…

  • As pessoas, às vezes, me perguntam: E agora, o que falta? E eu digo: falta tudo.

A ideia é chegar ano que vem, nos Jogos Olímpicos de Paris, no auge da forma. O Brasil nunca conquistou uma medalha olímpica no tiro com arco. Depois de duas participações, nos Jogos do Rio 2016 e Tóquio 2020, Marcus está entre os favoritos ao pódio em 2024. E ele já não tem dúvidas: pode encarar qualquer um. Olho por olho. E flecha por flecha.